"Toque outra vez, Sam", "Nós sempre teremos Paris" ou "O mundo está desmoronando e nós nos apaixonamos". Não é preciso dizer mais nada. Há 70 anos, no dia 26 de novembro de 1942, sem grandes expectativas, chegava aos cinemas aquela que se tornou a história de amor mais famosa do cinema, Casablanca.
Na época, não era esperado que o filme fizesse tanto sucesso, já que o mundo passava por dificuldades. O roteiro havia sido escrito durante uma manifestação, a Segunda Guerra Mundial tinha deixado Hollywood sem galãs e Humphrey Bogart havia entrado no elenco do filme de última hora, substituindo ninguém menos que Ronald Reagan. Ao invés de Ingrid Bergman, os produtores haviam pensando em Hedy Lamarr, e o filme nem sequer seria ambientado no Marrocos, mas em Lisboa.
Casablanca nasceu mais como um filme de propaganda política do que como uma história de amor imortal, cujo exotismo seria reconstruído inteiramente nos estúdios. A estação de Paris, por exemplo, foi reciclada de outro filme da Warner, A Estranha Passageira. A princípio, o filme teria o mesmo título da obra de teatro na qual se baseava, Everybody Comes to Rick's (Todo Mundo Vem ao Rick's), mas essa ideia acabou sendo descartada na tentativa de repetir o mesmo sucesso de Argélia, rodado três anos antes.
Assim, a tropeços, um dos filmes com mais momentos inesquecíveis e rememorados do cinema era desenvolvido. O fato é que, com três prêmios Oscar conquistados, uma trama cheia de diálogos inesquecíveis, interpretações antológicas de Bogart e Ingrid Bergman (assim como Claude Rains e Peter Lorre em papéis secundários) e uma música de Max Steiner,Casablanca entraria para a eternidade.
Michael Curtiz, diretor de As Aventuras de Robin Hood e A Carga da Brigada Ligeira, foi o inesperado artífice desse milagre, já que o mesmo também não era citado como primeira opção, e sim o mestre do melodrama William Wyler. No entanto, essa equipe de suplentes encontrou tal sinergia que impôs seu amor até ofuscar a Marselhesa, que soava já nos créditos iniciais, e a mensagem de oposição aos nazistas em um projeto que começou a ser idealizado apenas um dia depois do ataque japonês contra Pearl Harbor.
Rick e Ilsa, os amantes que o tempo e a História desejarão separar continuamente, davam ao melodrama clássico de Hollywood um adicional de amargura, arrematado com esse final realista tão pouco acostumado na época. Era um casal perfeito -- mas só dentro da magia do cinema, afinal, ele teve de subir em caixotes para ganhar os cinco centímetros que a atriz sueca o tirava.
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