quarta-feira, 23 de outubro de 2013

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE DE 1956



























 Uma grandiosa saga no coração de um dos maiores estados norte-americanos. Assim Caminha a Humanidade conta a história de três gerações de influentes texanos e seus conflitos familiares, amorosos, raciais e as disputas econômicas entre os tradicionais pecuaristas e os novos ricos magnatas do petróleo do Novo Oeste. Com um elenco composto por nomes da grandeza de Elizabeth Taylor, Rock Hudson e Rod Taylor, o filme marca a derradeira atuação de James Dean no cinema - o ator jamais assitiria ao filme concluído, já que faleceu antes de a produção terminar. Indicado a dez prêmios Oscar, vencedor na categoria Melhor Diretor com George Stevens, Assim Caminha a Humanidade, adaptado do romance de Edna Ferber, foi considerado pela revista TIME o mais contundente legado anti-intolerância racial jamais levado à telas, o retrato de uma era.

Esta edição em DVD de "Assim Caminha a Humanidade" é basicamente a mesma excelente edição em três discos da cópia restaurada, lançada anteriormente no Brasil. 

No primeiro disco, há a primeira parte do filme, apresentada pelo filho do diretor e também seu assistente, George Stevens Jr. Todos os extras são legendados, menos os comentários em áudio auxiliar, feitos por Stevens Jr, peloo roteirista Ivan Moffat e pelo crítico Stephen Farber. 

No disco 2, há a segunda parte do filme e o documentário "George Stevens: Cineastas que o Conheciam", em que Stevens Jr. mostra depoimentos de cineastas ilustres sobre seu pai, recolhidos durante anos, o que dá especial importância a esse bônus, feito em 2001, com 45 minutos. 

Entre os entrevistados estão Warren Beatty, Frank Capra, Joseph L. Mankiewicz, Rouben Mamoulian, Alan J. Pakula, Robert Wise, o designer Antonio Vellani e Fred Zinemann. O disco 2 traz também cenas raras de bastidores de alguns filmes do diretor. 

O disco 3 é formado apenas por extras, legendados: no programa de TV "Por Trás das Câmeras", o ator Gig Young fala do local das filmagens, a cidade de Marfa, no Texas, e entrevista o autor da trilha musical, Dimitri Tiomkin (que se revela muito bem humorado). Também constam uma reportagem sobre a equipe que se despede para viajar para o Texas e a pré-estréia do filme em Hollywood. Além disso, há o registro da transmissão ao vivo da premiére do filme em Nova York, apresentada por Chill Wills e Jayne Meadows. Em todos os lugares, a ausência gritante é de Elizabeth Taylor, que não colaborou com esse projeto. 

O disco 3 traz ainda o making of de 50 minutos, "Memórias de 'Assim Caminha a Humanidade'/ Memories of 'Giant'", de 1998, com depoimentos de Stevens Jr., Carroll, Withers (que cedeu filmes caseiros), Earl Holliman, Dennis Hopper e Rock Hudson. O momento mais tocante desse making of é quando Hudson diz que, ao ver o filme, podia se imaginar com 70 anos. Como todo mundo sabe, ele morreu aos 60. 

"De Volta a 'Assim Caminha a Humanidade'/ Return to 'Giant'" (narrado por Don Henley, 50 min., de 1996) é centrado na reação dos texanos ao filme. Tem também imagens e documentos (galeria de fotos e memorandos), trailers e premiação. 

Tradução e adaptação
"Assim Caminha a Humanidade" é uma exceção clássica no que diz respeito às traduções brasileiras dos títulos dos filmes. Não é muito melhor Assim Caminha a Humanidade do que simplesmente "Gigante" (tradução literal do americano, Giant)? 

Com certeza, a aceitação do título foi auxiliada pelo sucesso desse filme de George Stevens, que, por diversas razões, tomou proporções lendárias até aqui no Brasil, o que justifica o lançamento simultâneo com os EUA dessa edição especial. 

Antes do filme, existia o livro escrito por Edna Ferber (1887-1968), uma famosa autora de best-sellers que viraram filmes famosos, como "Show Boat", "Jantar às Oito" (Dinner at Eight), "Cimarron" (que rendeu o filme que ganhou o Oscar de 1930), "Meu Filho, Minha Vida" (So Big), "Mulher Exótica" (Saratoga Trunk), "Meu Filho É Meu Rival" (Come and Get it), só para mencionar os mais famosos. 

Foi Edna quem teve a idéia de escrever um livro que conta a história do Texas por meio da trajetória de uma família. Foi uma idéia tão bem-sucedida, que outros escritores entrariam na onda, homenageando outros Estados dos EUA, como o Havaí (James Michener), o que fez com que ela própria repetisse a dose com o então recém-criado Estado do Alaska (com "Palácio no Gelo", 1960), ainda que com menor impacto. 

Diretor
O diretor George Stevens (1904-75) era um técnico perfeito, sabia tudo sobre cinema e montagem de filmes. Ele não tinha pressa em acabar os filmes, nem tinha gênero preferido. Era bom em tudo, de musicais de Fred Astaire e Ginger Rogers ("Ritmo Louco", 1936) a faroestes ("Os Brutos Também Amam", 1953), e nunca nenhum ator fez uma má interpretação numa fita sua. Todas as estrelas o adoravam e trabalharam com ele mais de uma vez. 

Alguns filmes de Stevens beiram a perfeição. Os dois anos que ele levou para montar "Um Lugar ao Sol" (1951) ficam patentes no resultado brilhante. Stevens estava no auge da carreira e prestígio quando aceitou produzir e dirigir "Assim Caminha a Humanidade" para a Warner (pelo qual não teve salário), que não interferiu no resultado. Ele tinha liberdade total de ação e na escolha do elenco. Stevens preferiu colocar jovens e envelhecê-los: Elizabeth Taylor e James Dean tinha apenas 24 anos, Rock Hudson, 29. 

O papel de Jett Rink, que completa o triângulo amoroso com o casal Taylor e Hudson, foi antes oferecido para Alan Ladd, amigo de Stevens desde "Os Brutos Também Amam", que o recusou. 

O diretor resolveu apostar em James Dean, que havia rodado dois filmes para o estúdio ("Vidas Amargas" e "Juventude Transviada"), ambos então inéditos. Ou seja, ninguém sabia na época que Dean viria a se tornar um astro. E o risco era maior porque o ator seria envelhecido com maquiagem, o que podia não dar certo. Stevens arriscou e acertou. Ou até certo ponto, porque Dean morreu num acidente de carro em 30 de setembro de 1955, três dias depois de concluídas as filmagens. 

Cientes do gosto de Dean por carros velozes, os executivos do estúdio haviam proibido Dean de dirigir durante as filmagens _ironicamente ele havia feito um comercial em que falava sobre os perigos de guiar sem controle. Embora a morte prematura tenha elevado o ator ao status de ícone _potencializado pela máquina publicitária da Warner, que tinha ainda que lançar seus filmes_, sempre correu o boato de que Dean morreu sem completar a dublagem de algumas cenas, o que teria sido feito Nick Adams, imitador e amigo dele, que morreria de overedose em 1968.

Mas, apesar de tudo, o papel de Dean é secundário. O filme é focado nos personagens de Elizabeth Taylor e Rock Hudson. Durante as filmagens, Elizabeth ficou muito amiga de Hudson, não se aproximando em particular de Dean. Tanto que dessa amizade resultaria, décadas depois, no engajamento da atriz em campanhas contra a Aids, doença em decorrência da qual Hudson morreu.

Na verdade, um problema impossível de superar e uma das falhas do filme é o efeito de evelhecimento dos personagens com maquiagem; basta comparar Elizabeth maquiada como uma velha e ela hoje. Também teria sido preferível William Holden (que foi cogitado, mas era muito caro) no papel de Hudson, já que este teve de usar peso extra no corpo para simular ser velho. 

"Assim Caminha a Humanidade" foi indicado aos Oscar de melhor filme, ator (Hudson, sua única indicação, e Dean, postumamente), atriz coadjuvante (Mercedes McCambridge), direção de arte, figurino, montagem, trilha musical e roteiro, mas ganhou apenas o de direção.

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